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São Paulo é a maior cidade italiana do mundo: 55% dos habitantes são descendentes de oriundi. Para o paulistano, visitar a Itália não traz muitas novidades, exceto a de conhecer in loco todas as coisas de que gosta à mesa, em seus preparos originais.
Recentemente, estive em Roma, Florença, Veneza e Milão – esta, infelizmente, só para pernoitar antes de voltar ao Brasil – e dou aqui algumas dicas de passeios, compras e restaurantes.
Roma
Os napolitanos criaram a frase em dialeto, “Vir’ Napule e pò muor’ ” e depois os romanos se apropriaram dela… pelo menos, é o que dizem os napolitanos. A verdade é que Roma foi o centro da civilização no começo do segundo milênio, e a cidade se desdobra para preservar os sinais de sua antiga pujança.
E faz muito bem. Roma é uma viagem no tempo, e alguns monumentos são imperdíveis. É o caso, por exemplo, do Coliseu.
O Coliseu visto do Foro Romano
Se você perguntar a algum colega de viagem se ele visitou o Amphitheatrum Flavium em Roma, é bem provável que ele olhe intrigado e ponha a mão na cabeça, tentando se lembrar dessa atração. No entanto, deve ter sido sua primeira visita na cidade: é o nome oficial do Coliseu. Este nome só pegou a partir do século VIII de nossa era, provavelmente por causa de uma colossal estátua (daí colosseum – coliseu) de Nero que ficava perto desse anfiteatro.
Construído com concreto (invenção romana datada do século IV AEC) e areia, foi obra de dois imperadores, Vespasiano e Tito, sendo concluído em 80 EC e modificado por Domiciano alguns anos depois.
Com público em torno de 65 mil pessoas, podendo acomodar até 80 mil, era o centro das atrações da cidade, promovendo combates entre gladiadores, a caça de animais, batalhas navais (sim!) e execuções. O Coliseu era parte da política panem et circenses de controle da plebe pelos governantes romanos.
Comer e beber
Não, não fui ao Alfredo, nem Il Vero, nem o alla Scrofa. O motivo é simples: A imensa maioria dos comentários faz concluir que hoje o fettuccine Alfredo é um mero chamariz de turistas, bem distante do espírito original desse famoso ristorante. Mas para os curiosos, o prato é esse da foto de cima, que comi na filial nova-iorquina em 2012, que fechou alguns anos depois.
Fui em busca de pratos simples mas que o romano busca no dia a dia, e esse é o cacio e pepe. E um dos melhores que provei foi num restaurante simples mas delicioso chamado Grazia & Graziella. O cartão de visitas do lugar já dá uma dica sobre o estado de espírito bem-humorado e descontraído que aguarda o visitante: “Sorrisi gratis”, “Sempre molto aperti”…
O atendimento ficou por conta de uma dupla muito simpática, Roberta e Gianluca. Um saco de papel com focacce fumegantes ajudou a espantar o frio da noite de outono.
A carta de vinhos não é muito extensa, mas bem focada, com preços razoáveis e variedade suficiente para compatibilizar bem com os pratos. Pedi um Capolemole, tinto biodinâmico da região do Lazio produzido por Marco Carpineti com Nero Buono di Cuori, Cesanese e Montepulciano, com frutas vermelhas, macio e de bela acidez. (A Itália, assim como a Espanha, leva muito a sério a questão da regionalidade no tocante ao vinho. O cameriere já atende você com mais atenção e boa vontade.)
O prato foi um tonnarelli cacio e pepe. Essa pasta é originária do Lazio, feita com semola di grano duro, ovos e sal e preparada numa chitarra. Seus fios são grossos mas não são longos como os do fettucine comum.
O queijo utilizado é o pecorino, que, como o nome indica, é feito com leite de ovelha (pecora); a pimenta é a do reino, moída na hora. Parece fácil, mas não é: se a temperatura de preparo não estiver correta, o prato não sai com a textura ideal.
O cacio e pepe do Grazia & Graziella veio no ponto, delicioso. Definitivamente, um lugar para se manter na agenda.